Na manhã
da última sexta-feira (28), O presidente do Instituto Histórico e Geográfico
Santa-cruzense, o Professor e historiador Éverton Alves Aragão, renunciou ao
cargo de presidente. Éverton estava a frente do instituto desde a
sua fundação em novembro de 2023.
Em nota
enviada a este Blog e divulgada nos grupos de mídias sociais do instituto. A nota
do presidente Éverton causou surpresa a muitos membros do Instituto, já que o
mesmo vinha desempenhando um grande trabalho.
Confira
a nota na integra:
Santa Cruz do Capibaribe, 28 de março de 2025 Bairro Nova Santa Cruz
O Instituto Histórico e Geográfico Santa-cruzense não foi fundado em 15
de novembro de 2023. Desde os primeiros passos do IHGS, entendi que sua
existência não se resume a uma ata de fundação ou a um evento solene. Ele
nasceu muito antes, no esforço silencioso de estudantes que cruzaram estradas
em busca de conhecimento, na tentativa de se tornarem historiadores e
geógrafos, que carregaram consigo não apenas livros, mas o peso e a leveza de
um sonho: o de contar a própria história. Essa história não é minha, nem de um único ser humano – é feita de muitas
vozes, algumas esquecidas, outras ainda por se levantar.
Quando assumi a presidência desta belíssima instituição ao lado de nobres
companheiros e companheiras, foi com a certeza de que o Instituto deveria
ser um espaço de diálogo, não de hierarquias rígidas ou reverências
vazias. No entanto, ao longo do caminho, percebi que as estruturas, mesmo as mais bem-intencionadas, podem reproduzir
aquilo que buscamos combater: o personalismo, a ideia de que uma só pessoa deve
carregar o fardo da memória coletiva. Não é assim que vejo a história, nem é
assim que desejo conduzir este projeto.
Repito o que escrevi no livro Histórias
de Santa Cruz do Capibaribe: nunca disse
que a história de Santa
Cruz do Capibaribe tem um proprietário, e, acrescento, nunca houve e haverá um do Instituto
Histórico e Geográfico. Possivelmente haverá pessoas mal-intencionadas ou com o
desejo de construir capital cultural, social e político dentro desta entidade.
Nos anos que estive à frente, minha atuação sempre foi pautada pela
colaboração, pela escuta e, sobretudo, pela crença de que a história se faz com
muitas mãos. Por isso,
quando sinto que minha presença
na presidência já não contribui, mas sim cristaliza a
maldita herança santa-cruzense, de que nesta cidade pode-se fazer qualquer ato
sem perigo algum. Pois bem, o esse padrão operante adentrou essa instituição da
forma mais despretensiosa, de dentro de suas próprias lideranças temporárias.
Até este momento, foi a única batalha
que presenciei na vida, o único campo de
batalha que pisei na vida. E pense comigo: mais parecia uma guerra entre duas raças de
formicidas contra uma única formiga.
Em uma analogia local, podemos metaforizar da seguinte maneira:
– O que é uma máquina
de costura para mim?
– Atravesse seu dedo em uma agulha na trilha de um pano que saberá
que ela não mata, mas fere.
Desejaria ser Darcy Ribeiro, posto pelo autor no livro O Povo Brasileiro, ser homem de fé e de
política, mas sou apenas um professor temporário municipal, doutorando em
história não bolsista, um pai e marido – fragilizado e, em não raros momentos,
incompetente como qualquer outro ser humano –, nunca serei um santa- cruzense (de
nascimento, de posse ou de muitas virtudes por essa cidade). No máximo, um
sujeito ferido por uma agulha.
A decisão de transferir a presidência à vice-presidência não é um ato de
desistência, mas de coerência – vem do desejo de não mais caminhar em círculos,
mas seguir em frente. Se, por qualquer razão, a vice-presidente não puder
assumir imediatamente, peço que convoque uma assembleia para a eleição
de uma nova diretoria,
assegurando que o Instituto continue seu caminho com frescor e legitimidade.
Seguirei como sócio, participando das reuniões, dos debates, das pequenas
e grandes lutas que virão. Afinal, o
que move um instituto histórico não são títulos, mas o compromisso com a
memória viva de um povo. No Brasil, muitas instituições como a nossa
desaparecem e ressurgem – mas tenho
fé que, em Santa Cruz do Capibaribe, onde
tantos já lutaram para que a história não fosse apagada, o Instituto
permanecerá.
Júlio Ferreira de Araújo, em seu livro sobre a História de Santa Cruz do Capibaribe, provocou os historiadores, disse que eles estavam muito omissos em seu papel. Bom... a omissão acabou parcialmente, espero que agora busquemos a honestidade intelectual e artística, que no presente e no futuro as pessoas que bradam ser a CULTURA/HISTORIOGRAFIA santa-cruzense sejam, no mínimo, justas com seus pares, com seus concidadãos, com as verbas públicas e privadas destinadas aos seus fazeres. Com o dito escrito, desejado do meu punho e da minha letra: jamais escreverei um “A” de uma outra pessoa da qual eu não a cite, isso é a conduta básica para as ciências e para a arte.
Imaginando o longo
prazo desses rearranjos aos quais me refiro, gosto
muito de pensar no Darcy, pelos seus sucessivos fracassos – como ele mesmo se autodetermina –, então,
parafraseando-o: a vida nos coloca em lugares que nem sempre escolhemos, mas
que devemos ocupar com honestidade. Hoje, meu lugar é outro. Que o Instituto
siga em frente, maior do que qualquer um de nós.
Que os próximos passos sejam dados com coragem, como sempre foi o sonho
daqueles primeiros estudantes que subiram nos ônibus rumo a Caruaru e Campina
Grande. E que eu, em meu lugar agora secundário, possa aprender mais do que
ensinar.
Fraternal abraço,
Éverton Alves Aragão Professor e Historiador
0000059/PE
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