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sábado, 29 de março de 2025

Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Santa-cruzense renúncia!

 



Na manhã da última sexta-feira (28), O presidente do Instituto Histórico e Geográfico Santa-cruzense, o Professor e historiador Éverton Alves Aragão, renunciou ao cargo de presidente. Éverton estava a frente do instituto desde a sua fundação em novembro de 2023.

 

Em nota enviada a este Blog e divulgada nos grupos de mídias sociais do instituto. A nota do presidente Éverton causou surpresa a muitos membros do Instituto, já que o mesmo vinha desempenhando um grande trabalho.

 

Confira a nota na integra:

 

Santa Cruz do Capibaribe, 28 de março de 2025 Bairro Nova Santa Cruz

 

O Instituto Histórico e Geográfico Santa-cruzense não foi fundado em 15 de novembro de 2023. Desde os primeiros passos do IHGS, entendi que sua existência não se resume a uma ata de fundação ou a um evento solene. Ele nasceu muito antes, no esforço silencioso de estudantes que cruzaram estradas em busca de conhecimento, na tentativa de se tornarem historiadores e geógrafos, que carregaram consigo não apenas livros, mas o peso e a leveza de um sonho: o de contar a própria história. Essa história não é minha, nem de um único ser humano é feita de muitas vozes, algumas esquecidas, outras ainda por se levantar.

 

Quando assumi a presidência desta belíssima instituição ao lado de nobres companheiros e companheiras, foi com a certeza de que o Instituto deveria ser um espaço de diálogo, não de hierarquias rígidas ou reverências vazias. No entanto, ao longo do caminho, percebi que as estruturas, mesmo as mais bem-intencionadas, podem reproduzir aquilo que buscamos combater: o personalismo, a ideia de que uma só pessoa deve carregar o fardo da memória coletiva. Não é assim que vejo a história, nem é assim que desejo conduzir este projeto.

 

Repito o que escrevi no livro Histórias de Santa Cruz do Capibaribe: nunca disse que a história de Santa Cruz do Capibaribe tem um proprietário, e, acrescento, nunca houve e haverá um do Instituto Histórico e Geográfico. Possivelmente haverá pessoas mal-intencionadas ou com o desejo de construir capital cultural, social e político dentro desta entidade. Nos anos que estive à frente, minha atuação sempre foi pautada pela colaboração, pela escuta e, sobretudo, pela crença de que a história se faz com muitas mãos. Por isso, quando sinto que minha presença na presidência não contribui, mas sim cristaliza a maldita herança santa-cruzense, de que nesta cidade pode-se fazer qualquer ato sem perigo algum. Pois bem, o esse padrão operante adentrou essa instituição da forma mais despretensiosa, de dentro de suas próprias lideranças temporárias.

 

Até este momento, foi a única batalha que presenciei na vida, o único campo de batalha que pisei na vida. E pense comigo: mais parecia uma guerra entre duas raças de


formicidas contra uma única formiga. Em uma analogia local, podemos metaforizar da seguinte maneira:

 

  O que é uma máquina de costura para mim?

  Atravesse seu dedo em uma agulha na trilha de um pano que saberá que ela não mata, mas fere.

 

Desejaria ser Darcy Ribeiro, posto pelo autor no livro O Povo Brasileiro, ser homem de fé e de política, mas sou apenas um professor temporário municipal, doutorando em história não bolsista, um pai e marido – fragilizado e, em não raros momentos, incompetente como qualquer outro ser humano –, nunca serei um santa- cruzense (de nascimento, de posse ou de muitas virtudes por essa cidade). No máximo, um sujeito ferido por uma agulha.

 

A decisão de transferir a presidência à vice-presidência não é um ato de desistência, mas de coerência – vem do desejo de não mais caminhar em círculos, mas seguir em frente. Se, por qualquer razão, a vice-presidente não puder assumir imediatamente, peço que convoque uma assembleia para a eleição de uma nova diretoria, assegurando que o Instituto continue seu caminho com frescor e legitimidade.

 

Seguirei como sócio, participando das reuniões, dos debates, das pequenas e grandes lutas que virão. Afinal, o que move um instituto histórico não são títulos, mas o compromisso com a memória viva de um povo. No Brasil, muitas instituições como a nossa desaparecem e ressurgem – mas tenho fé que, em Santa Cruz do Capibaribe, onde tantos já lutaram para que a história não fosse apagada, o Instituto permanecerá.

 

Júlio Ferreira de Araújo, em seu livro sobre a História de Santa Cruz do Capibaribe, provocou os historiadores, disse que eles estavam muito omissos em seu papel. Bom... a omissão acabou parcialmente, espero que agora busquemos a honestidade intelectual e artística, que no presente e no futuro as pessoas que bradam ser a CULTURA/HISTORIOGRAFIA santa-cruzense sejam, no mínimo, justas com seus pares, com seus concidadãos, com as verbas públicas e privadas destinadas aos seus fazeres. Com o dito escrito, desejado do meu punho e da minha letra: jamais escreverei um “A” de uma outra pessoa da qual eu não a cite, isso é a conduta básica para as ciências e para a arte.


Imaginando o longo prazo desses rearranjos aos quais me refiro, gosto muito de pensar no Darcy, pelos seus sucessivos fracassos – como ele mesmo se autodetermina –, então, parafraseando-o: a vida nos coloca em lugares que nem sempre escolhemos, mas que devemos ocupar com honestidade. Hoje, meu lugar é outro. Que o Instituto siga em frente, maior do que qualquer um de nós.

 

Que os próximos passos sejam dados com coragem, como sempre foi o sonho daqueles primeiros estudantes que subiram nos ônibus rumo a Caruaru e Campina Grande. E que eu, em meu lugar agora secundário, possa aprender mais do que ensinar.

 

Fraternal abraço,

 

Éverton Alves Aragão Professor e Historiador 0000059/PE

 

 

 

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